sss

quinta-feira, 15 de março de 2012

3- Projetar e Sentir


A Projeção da Consciência se faz tão naturalmente como respirar, mecanismo adquirido pelo exercício através do tempo, grande mestre  e professor.
Vejo muitos tateando no mundo extrafísico, presas fáceis aos vampiros famintos de ectoplasma, seres famulentos de alimento mental que cria ferramentas que os abrigue e sacie.
Tudo começa a partir de um pensamento, criando horizontes além dos olhos físicos, criando conexões que nos leva longe, longe...
... O pensamento voa além de nós, assim como o vento que sopra em toda parte e o Fluido Cósmico erguendo novas construções, enquanto outras são brutalmente violentadas pelas mãos de predadores.
Posso sentir com profunda consternação, porque sinto em cada ser vivo da floresta, e vejo as motos serras e tratores derrubando as árvores. Posso sentir o cheiro da madeira adentrando pelas minhas narinas e sentir um lamento na brisa farfalhando tristemente nos copados. Posso ouvir a floresta chorar, as folhagens rasteiras chorar. Posso sentir o suor vindo dos homens que extirpavam sem piedade a selva da vida, sentia o cheiro de diesel no ar, e o silencio dos confins da mata após o baque seco de mais uma árvore tombada.
Sem segurar o pranto deixei descer, sentia o sal da minha lágrima assim como sentia toda matéria emprestada da Grande Mãe para constituir os corpos.
Após isso um silêncio no qual podia ouvir um cântico distante, como uma música orquestrada.
   Esse som vibrava fora de mim, e dentro de mim, e inexplicavelmente sentia em mim as impressões de  seres distantes, e cada vez com mais amplitude, eles sentiam, também sentiam.
A voz de dentro e de fora cresciam cada vez mais a medida que eu me sentia mais conectada,  e o som sem palavras que ressoava em minha alma e coração estavam cada vez mais forte.
A voz crescia, tinha ressonância descomunal além que eu pudesse alcançar e somava a outras vozes, e mais outras que eu não tinha ouvido antes.
Eu me sentia presente em cada ato, eu me vi em lixões imensos, sentia o odor fétido vindo daqueles gases, sentia o chorume poluente impregnar na terra, assim como o veneno radiativo percorrendo o  sangue nas artérias, matando lentamente.
E me vi no arrastar dos vermes e devorando a matéria orgânica, e me vi no pouso dos urubus caindo sobre as carcaças. No qual me provocou ânsias de vômitos.
Não, não veja decomposição na vida que se renova conforme sua natureza, escutei.
Simultaneamente me vi no jardim, e estendida em verde tapete do gramado coberto pelo sereno, e nas flores em botões que se preparavam para desabrocharem ao sentir em si os primeiros raios de sol. E me vi no sol iluminando a Terra, despertando a vida! E brilhei mais quando sorri, porque vi que meu sorriso se fez sol.
E me vi nadando entre os golfinhos, livres em águas claras e mornas. Senti a alegria do grupo, o afeto de viver em família. Um zelando pelo outro, um ajudando o outro, um cuidando do outro e compartilhando a vida.
Mas chorei ao ver baleias sendo abatidas manchando de sangue as águas, senti sua dor quando o arpão perfurava e rasgava suas carnes, e ouvi seu lamento de dor ecoando nos mares. E ouvi as criaturas das águas chorando junto até  se calarem sem nada poder fazer.
E fui levada a rios que corriam calmos até caírem em véu em lindas cachoeiras, vi a vida em suas margens. Mas também vi rios mortos em imensas línguas negras cortando as cidades.
E me vi na loba solitária em busca dos seus filhotes que se perderam pelo caminho. Eu me vi na loba machucada, sentida pelo partir voluntário de muitos que não compreenderam seus rastros, aos olhos de uns tão confusos, ao julgo de outros... Tão caída.
Pude sentir o afago nos cabelos, dos seres, do vento, os seres do fogo. Os seres das águas, da Fonte Divina,  e do Todo. E mais uma vez não contive as lágrimas, mas não chorava apenas por mim, chorava por todos nós, e sentia que esse “todo” chorava também. Mas já não era um choro triste, era um choro de contentamento, afinal chegou a hora. Mas não pude deixar de pensar no tempo. Dormimos por séculos, esquecemos nossa origem para dar lugar ao homem material que sucumbi a devastação do tempo, perdidos na ambição desmedida.