Um Dia Chuvoso e O Amigo de Copo Descartável

Tem dias que apesar do sol, da brisa fresca nesse calorão do Rio de Janeiro, tem dias que o sorriso é vencido pela tristeza, e hoje é um dia assim para mim.

Sei que não deveria me entristecer, ser forte, não me abater, mas como há dias de chuva na natureza, também há dias chuvosos em nossa alma.

A terra precisa de dias chuvosos para regá-la, eu também preciso. Chuva de mais acontecem desatres, assim também é com a alma,
mas as vezes é inevitável, há situações que vão se unindo a outras e mais outras que o guarda-chuva da alma não suporta e a tristeza desagua de uma só vez.

Aprender a lidar as decepções não é tão fácil assim, o certo é fazer a lição de que não devemos esperar nada. Porque quando esperamos algo e esse algo não vem, ou vem não como queríamos, vem a decepção, o sofrimento. E o “demônio do ego” grita em nós, se debate, faz alarde...

Olhando minha neta, veio a mente um bordão que ela sempre diz, aprendeu no colégio com as coleguinhas. Lembrei a primeira vez que ela chegou emburrada e chorosa, porque uma das coleguinhas dela tinha dito que não seria mais amiga dela. Procurei saber o motivo que levou a coleguinha dizer isso para ela. Ela ainda chorosa disse, que ela não quis participar de uma determinada brincadeira, porque não estava com vontade. Disse a ela que no dia seguinte estaria tudo bem, e a que a coleguinha falou de boca para fora,  nem iria lembrar, e assim foi de fato. Mas o bordão de “não sou mais sua amiga” ficou sendo repetido tanto na escola quanto aqui em casa, ela ouvia das coleguinhas quando algo não saia como elas queriam, e aqui eu ouvia de minha neta quando algo não saia do jeito que ela esperava.

Mas trazendo o motivo de nossa tristeza ou minha, é quase isso.

Parece que eu ouvi figuradamente pessoas do meu relacionamento dizerem: “Eu não sou mais seu amigo (a)!”  Não é mais meu amigo, porque não pude atender um telefonema, não mais meu amigo porque eu estava ocupada na hora, não é mais meu amigo, porque não pude ir em determinado evento, ou jogo, não é mais meu amigo porque sem querer esqueci a data do aniversário, não é mais meu amigo porque fui sincera ao expressar minha opinião, não mais meu amigo, porque não joguei purpurina no ego dele, não é mais meu amigo, porque não alimentei a ilusão dele e tantas outras situações mais, que já me perdi entre tantas vírgulas.

Esses amigos não querem saber , e eu não quero saber, que se não foi atendido naquele momento porque algo devia ter acontecido, que a pessoa aquela hora estava ocupada, ou passava por um problema pessoal, ou mesmo porque não estava querendo falar por motivo íntimo. Poucos respeitam o momento, e se sentem ofendidos, ou me ofendo. Logo me afasto, sumo ou eles somem!

Só sei que esses meus amigos e eu igualmente estou dentro desta situação. Tenho visto muitos amigos simplesmente sumirem, assim como eu também sumi para outros tantos. Porque o problema não está apenas nos outros, está em nós, sem perceber agimos da mesma maneira e assim vai.

Acho que estamos nos acostumando a era do descartável, copos, pratos, panos de prato, garrafas, vasilhames, e porque não pessoas? Sim, se essa não vai comigo em determinado lugar, não vai jogar, não vai me atender a hora que eu quero, não vai dizer o que eu quero ouvir, ela não é mais minha amiga! E vamos trocar de amigos, assim como trocamos de canal sem nem nos abalarmos em levantar, assim como trocamos a todo instante de copo, de roupa, de celular.

Vemos que somos trocados por outros, ou trocamos nossos amigos por outros amigos. Amigos que vão no futebol, na balada, ou na igreja, amigos que vão no barzinho, ou vão jogar. Amigos prontinhos igual miojo, prontinhos para nos atender a hora que precisamos, amigos que só dizem o que queremos ouvir, amigos prontinhos, sem problemas, alegres, dispostos, e o bom, todos eles na hora que queremos.  Caso um deles falhar, vamos a procura de outros, temos aos montes nos sites de relacionametos, serviço nas operadoras de telefonia, nas redes sociais, não é mesmo? Sim, até programas de tv: Amor ou Amizade!?

Acho que escrevi demais para um dia chuvoso, para uma alma chuvosa. Mas é preciso pensar nisso, os verdadeiros amigos compreende o outro, suas limitações, seus problemas, suas rabujices, conhece sua cara. E não somem como dinheiro do povo na mão de alguns políticos. Estão lá quando o amigo liga para se desculpar e se explicar, ou para simplesmente aceitar que aquela não tinha sido uma boa hora, mas que estava ali agora para ouvir, dar a mão, o ombro, a ajuda, o consolo. Amizade é aquela que não há perdão, porque amigos não se ofendem. Compreende apenas!

E quanto aqueles que ficam presos a letra do meu portugues ruim, não esqueçam que meu office é de 2007 e já expirou.

Só precisava desabafar, falar, escrever com a alma,e espero que leiam com a mesma.

   

                                                                     Ana Lúcia Marins (Linyth)

                                                                                 

                                                                            18/01/2103